Thursday, January 19, 2006

Garota de 11 anos sugeriu o nome de Plutão

Paul Rincon

Venetia Phair não é um nome imediatamente associado à astronomia.

Mas a professora aposentada de Epson, Surrey, na Grã-Bretanha, deixou sua assinatura no mapa de nosso Sistema Solar.

Venetia Phair ajudou a batizar o planeta Plutão

Em 1930, com apenas 11 anos, Venetia Phair (hoje ela tem 87) sugeriu o nome Plutão para o recém-descoberto nono planeta, para o qual a agência espacial americana, Nasa, está lançando uma missão.
Plutão, o deus romano para do submundo, se mostrou um nome apropriado para o planeta enigmático, que está nos limites do Sistema Solar.

Mitológico

O nome proposto pela então aluna de Oxford foi aproveitado no Observatório Lowell, em Flagstaff, Arizona, onde o planeta foi descoberto pelo jovem astrônomo americano, Clyde Tombaugh.

"Na época eu tinha muito interesse em lendas e mitos gregos e romanos. Quando estava na escola, costuma brincar no parque da universidade, colocando, acho que eram torrões de barro, na distância certa para representar as distâncias dos planetas em relação ao Sol", disse Venetia Phair.

Venetia Phair aos 11 anos

"Algumas das distâncias eu me lembro, mais ou menos, então foi, provavelmente, uma boa lição que tive", acrescentou.
Na manhã de 14 de março de 1930, a jovem Venetia Burney estava tomando o café da manhã na sala de jantar de sua casa no norte de Oxford, onde morava com seu avô, Falconer Madan.
Madan, que era um bibliotecário aposentado, estava com ela lendo o jornal The Times e mostrou à neta o artigo que falava sobre a descoberta do novo planeta.

Sugestão

"Ainda consigo visualizar a mesa e a sala, mas lembro pouca coisa da conversa que tivemos", disse Phair.
O artigo mencionava que o planeta ainda não tinha sido batizado, o que levou Venetia Burney a sugerir um nome.
O avô dela, Madan, se impressionou tanto com a sugestão, Plutão, que foi falar sobre isso com seu amigo, Herbert Hall Turner, professor de astronomia na Universidade de Oxford, e um dos líderes do esforço mundial para produzir um mapa astronômico.
"Foi uma sorte incrível. Primeiro, tive a sorte de ter um avô que gostava do assunto e conhecia o professor Turner. E foi uma extrema sorte que o nome estava lá. Praticamente não existiam nomes da mitologia clássica que não tinham sido usados. Se eu pensei no obscuro e sombrio Hades, não tenho certeza", disse Phair.
O tio-avô de Phair, Henry Madan, sugeriu os nomes de Phobos e Deimos para as luas de Marte.
Mesmo aposentado, Falconer Madan continuava a visitar a biblioteca Bodleian, onde trabalhou, devido ao seu interesse no autor Lewis Carroll e para visitar ex-colegas.
"Ele foi até a biblioteca como costumava fazer e desviou o caminho para deixar um bilhete na casa do professor", disse Phair.

Recompensa

Por ironia, o professor não estava em casa pois tinha ido a uma reunião na Sociedade Astronômica Real, em Londres, onde havia muita especulação sobre o nome que seria dado ao nono planeta.


Herbert Hall Turner foi um dos astrônomos mais famoso da Grã-Bretanha

"Nenhum deles pensou em Plutão. Este foi outro golpe de sorte", disse Phair.
Quando Madan finalmente conseguiu conversar com Herbert Hall Turner, o astrônomo concordou que Plutão era uma sugestão excelente.
O professor prometeu enviar um telegrama com a sugestão para o Observatório Lowell. A partir daí, Phair não ouviu mais sobre o assunto durante um mês.
No dia 1º de maio de 1930 o nome Plutão foi oficialmente adotado. Quando a notícia foi tornada pública, Madan deu uma recompensa de cinco libras para sua neta.
"Isto era inédito. Como avô ele gostava de ter uma desculpa para generosidade", disse Phair.
Phair nega os boatos que se espalharam anos depois da descoberta de Plutão, de que ela teria dado a sugestão do nome a partir do personagem criado pela Disney, o cão Pluto (Plutão, em inglês), também criado em 1930.
"As pessoas falavam: 'Ah, ela deu o nome por causa do cão'. Já foi provado que o cão foi nomeado depois do planeta. Então, fui inocentada", disse.

Iniciais

O nome foi, aparentemente, adotado para o nono planeta não apenas porque era um dos poucos da mitologia clássica que ainda não havia sido usado, mas também devido ao fato das duas primeiras letras serem as iniciais de Percival Lowell, o astrônomo que nomeia o observatório onde Clyde Tombaugh, o descobridor de Plutão, trabalhava.
Com o outro astronômo, William Pickering, Lowell, adivinhou a existência de um outro planeta. Clyde Tombaugh encontrou Plutão durante uma busca sistemática pelo planeta.
Venetia Phair ainda tem os recortes de jornal a respeito do batismo do planeta Plutão, colecionados por seu avô.
"O professor que construiu o planetário no Centro Espacial de Leicester foi muito gentil e gastou muito tempo tentando nos localizar. Quando fomos visitar (o planetário), fomos tratados mais ou menos como realeza", disse.
Durante os anos ela tentou seguir os fatos relativos ao planeta que batizou, que astrônomos, atualmente, querem rebaixar.
Desde sua descoberta em 1930, astrônomos descobriram uma região inteira com objetos gelados, parecidos com Plutão, chamada Cinturão Kuiper.
Alguns cientistas agoram colocam Plutão na mesma categoria destes objetos do Cinturão de Kuiper ao invés de colocá-lo entre outros planetas.
"É interessante que, no momento em que eles rebaixam Plutão, o interesse parece ter aumentado. Na minha idade, fiquei indiferente ao debate. Mas em suponho que prefiro que Plutão permaneça um planeta", disse Venetia Phair.
Phair recebeu um convite da Nasa para assistir ao lançamento da missão espacial Novos Horizontes, do Cabo Canaveral, Flórida, mas ela afirma que, devido à sua idade, provavelmente terá que recusar o convite.

Fonte: Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/>. Acesso em: 19 jan. 2006.

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